A contagem do tempo é uma das actividades inerentes à condição humana. Apesar da sensação psicológica que o tempo "flui" inexoravelmente sempre no mesmo sentido, como a água de um rio, a verdade é que na base da contagem do tempo está a escolha de uma série de eventos que se repetem de uma forma periódica, ou seja, um ciclo. E, nesse aspecto, a natureza é prolífera no que toca à variedade de fenómenos cíclicos que nos apresenta. Tudo aparenta oscilar e funcionar em ciclos, desde a respiração dos seres vivos, passando pela luz que nos permite olhar o mundo, até ao movimento das estrelas em torno do centro da sua galáxia. A ciência dos nossos dias reflecte isso mesmo. Actualmente, o segundo é definido como a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis do átomo de césio-133 e uma das questões na vanguarda da física é descobrir até que ponto o próprio universo, como um todo, se rege por fenómenos periódicos. Sabe-se que teve um início e que está em expansão mas, apesar do senso comum nos dizer que "aquilo que tem um início também terá um fim", a verdade é que a questão do destino final do universo mantém-se em aberto. A escolha entre as duas alternativas mais óbvias, ou seja, a expansão para sempre e a contracção a partir de determinada altura, até se chegar a um universo que volta ao seu "ponto inicial", representam basicamente a escolha entre duas noções de tempo cósmico: a da linha recta, sem fim, ou a da circunferência que se fecha sobre si própria. 
E se hoje nos parece óbvio a inscrição "a.C" ou "d.C" na nossa contagem do tempo, o que acontecerá se, daqui a 10.000 anos, a nossa civilização tiver sido, por qualquer razão, apagada da história? E se os nossos livros e registos digitais não sobreviverem para contar essa história? O que pensarão os historiadores do futuro quanto à nossa escolha do ano zero? Terá sido feita por razões históricas, culturais ou astronómicas? É nesta posição que nos encontramos hoje quando estudamos os calendários de povos cuja história apenas sobreviveu baseada em poucos fragmentos desconexos. É pouco e insuficiente, mas é aquilo que nos chegou e é com isso que tentamos aprender algo dos nossos antepassados e, em última análise, algo sobre nós próprios. Etiquetas: México